quinta-feira, 2 de junho de 2011

Deitado na rede

Mão única. Mas... em que sentido? onde estão as placas?
Transitando pelas ruas de motocicleta um dia desses, mais precisamente em frente ao açougue público – eu detesto passar por aquela rua, tem sempre um monte de carros estacionados de um lado e toda vez vem um carro vindo do outro, é horrível, agente fica procurando uma brecha para enfiar a moto (imagina quando você está dirigindo um carro?) enquanto o outro veículo em sentido contrário passa. Mas, fazer o que? Já tem mais de quatro meses que escrevi neste blog sobre o assunto e nada foi feito ainda. Para piorar, a rua atrás do açougue tá um lameiro desgraçado. – Pois bem, em frete a mim, no mesmo sentido, ia um belo de um carro, acho que um FIAT Stilo ou outro parecido, não prestei muita atenção nisso porque no vidro traseiro estava colado um pequeno adesivo, no cantinho direito, onde estava escrito uma frase, dessas de campanha, de apoio ao prefeito. Quando eu vi o carrão e o adesivo tão pequeno pensei: Ou o dono desse carro não deve estar financeiramente muito ligado a prefeitura – não deve ter nenhum cargo comissionado nem talvez algum contrato, deve ser uma pessoa que simplesmente está expressando sua opinião – ou no caso de ter um belo de um cargo comissionado, é um grande mal agradecido. Qualquer outro que tivesse “ganhado” um cargo que por sua vez tivesse um salário suficiente para comprar um carro desses, no mínimo colocaria um adesivo do tamanho do vidro traseiro inteiro e com a foto também, talvez até uma bandeirinha, seria o mínimo!


Tudo culpa da chuva?
Até o buraco Highlander?


Brincadeiras a parte, a questão é que dentre os raros caminhos – disponíveis no interior – que uma pessoa de poucos recursos pode tomar para melhorar de vida, este é um deles. No entanto, até este caminho exige que a pessoa se movimente – por isso que eu coloquei a palavra “ganhado” entre aspas no parágrafo anterior. E movimento aqui é coisa rara, a economia da cidade cresce em ritmo lento, seguindo a pasmaceira interiorana, e se as pessoas acompanharem esse ritmo danou-se tudo. Para termos uma idéia disso, proponho um teste.

O que você estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001? Não sei quantas vezes você já ouviu essa pergunta antes, a primeira vez que me fizeram essa pergunta foi para mostrar o quanto o nosso cérebro tem uma memória seletiva, ou seja, é mais fácil recordar um fato quando aconteceu algo importante do que em um momento cotidiano. Assim, me disseram que era mais fácil lembrar o que tínhamos feito nessa data específica do que o que comemos ontem, isso faz um certo sentido (apesar da grande maioria de nós comermos basicamente as mesmas coisas todos os dias). Agora eu achei outra utilidade para essa pergunta. Recordando desse dia, vemos que realmente as imagens da tragédia do World Trade Center estão bem vivas na nossa memória, e se por acaso não estiverem não se preocupe, logo a Globo vai nos lembrar de tudo com várias matérias sobre isso. Pois bem, está prestes a completar dez anos desde esse dia e para mim passou bastante rápido, só que dez anos é um bocado de tempo, supondo que a dez anos atrás você tivesse 18 anos, provavelmente você ainda estava terminando o segundo grau e ainda estava naquele “esquema: escola, cinema; clube, televisão" (Valeu Legião!, mas adaptando ao interior: escola, bar; festa, televisão). Para quem teve a oportunidade, outros já trabalhavam duro nessa idade, era uma beleza, nada na cabeça e todo o tempo do mundo para perder. Agora, dez anos depois, bastante coisa deve ter mudado, você já deveria estar mais responsável, provavelmente casado e com filhos, já deveria também estar com um bom emprego e buscando uma promoção ou outro melhor. Mas, será que é assim tão fácil mesmo?

Vamos aproveitar a questão, que expliquei no parágrafo anterior, da memória seletiva para fazermos uma balanço, vamos nos lembrar de como estávamos a dez anos e de como estamos agora. Quantos acham que estão em melhor situação? Quantos acham o contrário? Essas perguntas são difíceis de resolver, mas têm outras mais fáceis: Qual é a nossa responsabilidade por estarmos como estamos agora? Será que nos esforçamos em busca das oportunidades ou ficamos sentados esperando por elas? Dificuldades a parte, fica bem mais difícil chegar a algum lugar deitado em uma rede. Ainda mais quando estamos vivendo em um lugar lento, preguiçoso e pequeno. Então, o que fazer?

Não há respostas milagrosas para isso, e nem Augusto Cury pode dá-las, infelizmente, cada um de nós teremos que encontrar o nosso próprio caminho. Mas, uma coisa posso dizer, temos que primeiro pensar e depois nos movimentar, ficar parado o dia inteiro na porta de casa olhando a vida passar ou assistindo TV ou mesmo sentado em um banco de boteco quase todo dia não vai ajudar. No entanto, que tipo de movimento? Economicamente falando, para que se possa consumir mais amanhã, temos que poupar hoje, esse é um bom ponto de partida para melhorar de vida honestamente. Esse poupar hoje não significa somente ir a Caixa Econômica e abrir uma poupança, ele significa que temos que economizar o que temos agora, ou seja, sacrificar agora, o que na maioria das vezes não é dinheiro. Por exemplo, para quem já tem uma certa fonte de renda, é mais fácil gastar tudo antes do final do mês (não falta opções de consumo para isso em nossa querida sociedade), que poupar um pouco para investir num pequeno negócio ou mesmo pagar um cursinho ou ainda comprar algum livro. Para essa pessoa é bem mais fácil se acomodar onde está e ficar uma vez ou outra fazendo empréstimos para pagar pelos excessos, afinal, é tão fácil obter crédito nesse Brasil. Já para uma pessoa simples que trabalha o dia inteiro e que ganha pouco, ela poderá sacrificar sua noite em casa assistindo novela – isso serve para os homens também, eles agora além de futebol estão assistindo novela – para terminar o ensino médio, é de graça, ou caso já o tenha terminado, pode adquirir baratinho algum material para concurso e estudar em casa mesmo. O sacrifício que fazemos ao estudar hoje também é a poupança que poderá nos dar uma renda maior no futuro.  

Em fim, cada um tem que "auto avaliar-se a si mesmo" (é só para enfatizar!) para ver se não estão se acomodando e fazendo parte da letargia. O movimento nos mantém vivos.