segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crônicas interioranas: Povo curioso

Crônicas interioranas: Povo curioso: "A curiosidade é uma característica inerente ao ser humano. No interior, mais que em outros lugares, esse é um hábito bastante difundido e de..."

Povo curioso

A curiosidade é uma característica inerente ao ser humano. No interior, mais que em outros lugares, esse é um hábito bastante difundido e de certo modo aperfeiçoado que, querendo ou não, faz parte da vida de todos. Eu digo “querendo ou não” porque todos sofremos os efeitos da curiosidade alheia, no meu caso eu chego às vezes até a ficar meio constrangido, é sério! Vai dizer que ninguém já se sentiu assim ao passar pela rua e perceber que um bando de gente está te observando? Na minha rua então... imaginem a cena, você passando sozinho a pé por uma rua cheia de gente nas calçadas e portas, independente da hora do dia, com direito a cadeiras, etc. quando a rua parece estar deserta, geralmente a noite, basta um pequeno ruído como o de sua chave abrindo o cadeado da sua porta, para que um basculante do outro lado da rua seja aberto, uma rua onde todo mundo conhece todo mundo ao ponto de perceber quando um vizinho chega mais tarde do trabalho. Eu sei que posso estar sendo meio paranóico, que traz uma certa sensação de segurança essa proximidade que os vizinhos têm, mas tamanha curiosidade tem um efeito colateral: a “fofoca”.

         Ta aí um fenômeno interessante, para mim é como se o seu vizinho fosse da família, ele interage com sua intimidade e logo depois difunde a informação para que mais pessoas façam parte da sua privacidade e sintam-se da família também. Outro ponto é que tem até local e hora marcada para a fofoca, no caso das donas de casa o horário favorito é à tarde, ou no finalzinho dela, nas calçadas, elas se põem a par de todos os fatos relevantes, para os homens depende, alguns preferem se interar da vida alheia logo de manhã cedo no bar do Davi, outros a tarde no bar do Arsênio. Eu só sei que o negocio é tão desenvolvido que o G1 da globo ou a agencia de notícias Reuters deveriam estudar, nem o serviço secreto americano consegue saber o que os cidadãos estão fazendo no interior de suas residências com tamanha precisão, quanto os vizinhos curiosos.

         A pergunta que fica agora é: por que essa curiosidade e esse sofisticado mecanismo de disseminação de informações não é utilizado para questões importantes para todos? Isso mesmo, eu não acho que minha vida melhora nem um pouco se eu souber que fulana “colocou gaia” em sicrano, ou que o filho de beltrana é homossexual. Por exemplo, dificilmente agente vê, com a mesma freqüência, um grupo de pessoas discutindo se aumentou o número de empregos, ou se melhorou o atendimento nos hospitais ou se a educação está piorando. Como seria útil se as pessoas tivessem mais curiosidade por coisas assim e passassem a informação para os outros, com mais pessoas informadas teríamos mais pessoas para cobrar providencias das autoridades, etc.

         Para dar um primeiro passo neste sentido, vou fazer minha primeira fofoca.

        Abaixo temos um gráfico que mostra o IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica) para a 4ª série/5ª ano das escolas municipais de Arcoverde e Buíque, nos anos de 2005, 2007 e 2009. Como podemos observar até 2007, Buíque vinha obtendo o mesmo IDBE que Arcoverde, 2,8 em 2005 e 3,1 em 2007. Contudo, em 2009 Arcoverde atingiu a marca de 3,9 e Buíque caiu para 3,0, para efeito de comparação, a média nacional é de 4,5, ou seja, ambos os municípios estão abaixo da média, mas qual deles está mais próximo da média nacional? Ai é que está, não sei por que o município de Buíque que vinha apresentando crescimento no índice, obteve essa queda em 2009.



           O que isso significa? De cara já percebemos que não é uma coisa positiva, e não é mesmo, isso é o mesmo que dizer que a educação aqui, no mínimo não está melhorando. Perceberam a diferença? Educação ruim é uma informação útil para todos, afinal são nossos filhos que estão tendo uma educação insuficiente, e são eles que provavelmente terão dificuldade para conseguir um bom emprego no futuro, caso isso continue. Eu sei que não é uma informação tão interessante quanto saber quem apanhou da mulher ou quem engravidou virgem, mas eu posso tentar torná-la um pouco mais atraente. Por exemplo, simplesmente eu mostrei como anda a educação básica aqui em Buíque relativamente ao IDEB, mas não cheguei a mostrar possíveis motivos.

         O próximo gráfico mostra, de acordo com o portal da transparência, os recursos repassados pelo governo federal para os municípios de Buíque e Arcoverde na área da educação no exercício de 2009, onde dentre os recursos dessa área temos o FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), o PNATE (Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica) entre outros.



    Como podemos observar, somente do FUNDEB, Buíque recebeu R$ 7.452.476,09, enquanto Arcoverde recebeu apenas R$ 4.645.464,29, quando somamos o valor de todos os repasses a diferença aumenta ainda mais, Buíque recebeu em 2009 R$ 9.261.587,65, enquanto Arcoverde recebeu no mesmo ano R$ 5.966.282,67.


         Com essas informações eu não posso afirmar muita coisa, mas fica evidente que até um certo ponto as duas cidades vinham melhorando o indicador da educação, mas em 2009 uma apresentou leve queda no índice enquanto a outra aumentou o mesmo, e o irônico é que a cidade que teve o resultado negativo recebeu mais recurso do governo federal que a outra. Como eu quero manter a credibilidade dessa “fofoca”, não posso, ainda, explicar os motivos para o IDEB de Buíque ter caído, mas uma coisa eu sei, apesar disso que foi mostrado não ser tão interessante quanto uma fofoca habitual, eu sei que pelo menos nos fez pensar um pouco.  


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Esperança na escola

Está semana eu estava lembrando do quanto havia ficado satisfeito quando, no final do ano passado, o município de Buíque atingiu 51.990 habitantes. O que eu achei interessante nisso foi o motivo pelo qual eu fiquei satisfeito, não foi porque o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) do município seria mantido (caso a população ficasse abaixo de De 50.941habitantes, o FPM cairia), também não foi porque eu trabalhei no censo e estava querendo “mostrar serviço”, foi por um motivo mais ingênuo ainda: Eu gostaria de ver nosso município com uma escola técnica.

         Antes de explicar onde a escola técnica entra nessa história, eu quero citar um momento interessante que ocorreu na faculdade. No meio de uma aula certo professor expôs uma ideia, que por sinal não gostei, pra falar a verdade eu esperava mais de um professor universitário... mas bem, ele argumentou que, como todos sabemos, a educação pública – tanto a básica quanto o ensino médio – são ineficientes, ou seja, ruins mesmo, e comparou com a educação privada – para os mesmos níveis – onde concordamos que o ensino particular (pago) é bem melhor que o público (de graça). Após isso ele nos mostrou que o governo gastava em média por mês R$ 300,00 por aluno do ensino médio, isso é um valor que daria para pagar uma escola particular, assim ele finalizou: “por que então não excluímos as escolas públicas (as ruins) e o governo paga bolsas de estudos, nas escolas particulares (que são as boas), para os alunos que não podem pagar?” Encrenqueiro como sou levantei a mão imediatamente, quando ele assentiu eu disse: “a universidade pública, no geral, aqui no Brasil é, de longe, melhor do que as particulares, então se o governo consegue fazer escolas de terceiro grau muito boas, por que não pode fazer o mesmo com as outras?”

         O desfecho dessa discussão é irrelevante no momento, mas eu fiquei pensando em como a escola pública poderia ser boa, e junto com meus botões comecei a idealizar um modelo de escola baseado nas escolas de nível médio técnicas, tipo o antigo CEFET onde o mais próximo está em Pesqueira. Nessas escolas eu pude observar uma série de vantagens que contribuiriam e muito para o desenvolvimento de municípios como o nosso, com isso podemos imaginar como seria bom uma dessas escolas aqui em Buíque. Assim, voltando à questão do primeiro parágrafo, o motivo ingênuo que me levou a ficar satisfeito por nosso município ter atingido essa população foi o fato da Presidente Dilma ter, durante a campanha eleitoral, prometido que “construiria escolas técnicas em municípios com mais de 50 mil habitantes”. Eu disse que era um motivo ingênuo, mas pelo menos uma coisa eu sei, nosso município estará dentre os que receberão escolas técnicas, caso ela cumpra a promessa e, além disso, se alguma autoridade política local concordar comigo, que seria bom uma escola dessas aqui, o mesmo poderia numa de suas viagens a Recife ou Brasília, lembrar a um deputado e outro dessa promessa e quem sabe se ela não se realizasse mais facilmente.

         Esta foi a primeira de uma série de postagens sobre a educação. Nas próximas crônicas eu vou expor meu ponto de vista sobre essa idéia de escola que foi citada e falar sobre o modelo de escola pública de qualidade que andei pensando, além de fazer um balanço comparando o valor dos recursos federais que a prefeitura municipal teve a disposição em 2010 com os resultados do IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica -, obrigado.