quarta-feira, 6 de julho de 2011

O show de Truman de cada um.

Ninguém gosta de notícia ruim. Isso é um fato que pode explicar porque muitas pessoas preferem assistir as novelas aos jornais por exemplo. Morreu, matou, sequestrou, roubou, afundou, explodiu, desmoronou, etc, são todas palavras fortes e presença garantida todos os dias nos nossos jornais. No entanto, na novela é diferente, nela os “nossos” desejos são realizados diariamente, mas que desejos? Bem, os que a sociedade, principalmente a mídia (TVs, revistas,etc.),  nos mostra como caminho para a felicidade: riqueza, consumo exagerado, poder. Você já parou para pensar porque até os pobres das novelas são ricos? Vai dizer que nunca prestou atenção na mesa de café da manhã dos pobres da novela? Eu me lembro que numa das poucas vezes que parei em frente a televisão para ver novela eu vi uma família pobre de Malhação, acho que o chefe da família era gari, pense em uma mesa farta: suco, bolo, pão, presunto, queijo, leite, café... Eu acho que os garis do Rio de Janeiro devem ganhar muito bem! Sabem o porquê de tudo isso? Simples, a maioria de nós já vêm pobreza todos os dias assim que acorda e os que não passam por isso, desejam ter mais. Com isso, é bom sonhar em ser rico pelo menos uma hora no dia, ou melhor, uma, duas, três... contando com a da tarde (reprise) e com a que vai estrear no horário das “onze”, cinco horas para sonhar! Parando para pensar, por que eles não tiram logo Jornal Nacional do ar e colocam outra novela no horário? Teríamos mais um tempinho para sermos felizes no mundo dos sonhos e menos tempo de sofrimento no mundo real.

         Vamos fazer um balanço do nosso tempo. Se passarmos 8 horas dormindo, 9 horas trabalhando (o pessoal do comércio aqui em Buíque trabalha mais ou menos isso, além de trabalhar o sábado inteiro ultrapassando as 44 horas semanais) e 5 horas assistindo novela, isso dá 22 horas, ou seja, nos resta 2 horas para as refeições, tomar banho, estudar, atender as necessidades fisiológicas e sexuais – isso é o que eu chamo de “rapidinha” – , fazer exercícios, etc. É pouco tempo para tanto, por isso que sacrificamos algumas coisas, mas quais? Bem, ninguém pode ficar muito tempo sem comer e fazer as necessidades fisiológicas, isso não da para sacrificar, sabemos também que o brasileiro, em geral, gosta de tomar banho e que apesar de o número de filhos por casal está caindo nos últimos anos, eu não acredito que as pessoas estão sacrificando o seu tempo “debaixo dos lençóis”. Então, o que nos resta? Excluir o estudo, os exercícios e todo o resto, deixamos de cuidar do nosso corpo e da nossa mente, simples assim.
  
         Confesso que exagerei um pouquinho, uma mudança vem ocorrendo em nossa comunidade, as pessoas estão fazendo mais exercícios e cuidando melhor do seu corpo. Mas esse vento da mudança ainda não direcionou nem sequer uma brisa para a educação. Afinal de contas, para que estudar, cada vez mais pessoas estão arrumando algum emprego e com isso estão podendo comprar as roupas e os sapatos que vêem na novela, isso por si só já é um motivo para comemorar, estamos mais felizes. Será? Se felicidade e assistir TV estiverem associadas, certamente o brasileiro é um povo muito feliz, pois até as professoras que trabalham três horários, a maioria trabalha no mínimo dois, e não podiam assistir aos “bem elaborados” romances televisivos, poderão em breve chegar em casa as dez da noite e sentarem-se em seus sofás para assistir a novela das onze!

         Para que eu não fique feito um Blu-ray enganchado (isso mesmo, Blu-ray, o CD e o DVD são coisa do passado, a mídia agora nos diz para utilizarmos a nova tecnologia e jogarmos fora a antiga.) fazendo remix do quanto é importante estudar, vou falar apenas do quanto é importante conhecer a nossa história. Tudo bem que para conhecer a nossa história é preciso estudar, mas... bem, continuando no remix do quanto eu detesto novela, mas não antes de esclarecer que o meu conhecimento sobre o enredo das mesmas não se deve ao fato de assisti-las, isso seria uma contradição, mais sim ao fato de fazerem chamadas das novelas em quase todos os comerciais. Pois bem, tem uma agora com sotaque nordestino, que pela primeira vez está mais parecido com o nosso aqui do interior, está mais seco e menos arrastado apesar de ainda está chiando muito como o do recifense. Mas, não foi isso que chamou minha atenção, foi pensando no nosso sotaque, que é uma das nossas riquezas, e no quanto ele é facilmente esquecido, basta um buiquense passar dois meses em São Paulo para abandonar completamente o nosso jeito de falar e voltar fluente em Paulistês. Eu conheci um gaúcho que estava a dez anos morando em Recife e ainda falava Gauchês, conheço paulistas que moram por aqui a muito tempo e ainda falam do mesmo jeito que falavam quando chegaram, e ainda tem o cumulo dos filhos da terra que foram para o sudeste e após um tempo lá voltaram falando Sudestês, só que apesar de estarem de volta a vários anos, ainda estão falando diferente. O que explica isso? Nosso sotaque é fraco? Bem, acho que não, o problema está no conhecimento de nós mesmos, muitos estão perdendo o orgulho de serem nordestinos. Isso é um fato, se não damos valor ao estudo de disciplinas práticas, imaginem o valor que a maioria dá ao estudo da história, com isso, como podemos saber que o nordeste do Brasil foi a região que garantiu, econômica, política e culturalmente o desenvolvimento do país por quase trezentos anos, que a capital do nosso país foi Salvador por quase igual período, isso é muito tempo, para um país que tem pouco mais de 500 anos, e que o nordeste carregou esse país nas costas pela maior parte do tempo. Tudo bem que quem faz isso agora é a região centro sul e nossa contribuição se perdeu na história. Será? Acho que não, pois mesmo quando o nordeste passou a bola de carro chefe do desenvolvimento nacional para o sudeste, continuamos contribuindo fundamentalmente para tal, ou será que os milhares de nordestinos que migraram para a Amazônia no século 19 atrás da borracha garantindo a povoação e a incorporação dessa região ao território nacional, em meio a malária a fome e ao calor, não merecem reconhecimento? Será que o país não nos deve consideração por tamanho sacrifício? Será que esqueceram que foi o suor e o trabalho dos nordestinos que fez de São Paulo um gingante econômico? Ou será que esqueceram também que foram os Candangos que desbravaram o planalto central e levaram nas costas o sonho de Juscelino.

         É realmente difícil lembrar disso tudo e sentir orgulho de nossos pais sem conhecer nossa história. Mas, não é preciso sacrificar a querida novelinha para ler aquele velho livro mofado e empoeirado de história do Brasil, mesmo hoje um filho do nordeste mostrou a todos nós onde podemos chegar, e não satisfeito em mostrar, ele ajudou, a sua maneira, o seu povo e se não conseguimos sentir orgulho do nosso passado, que possamos aproveitar o legado do Lula para que possamos nos orgulhar do nosso futuro.     

Um comentário:

  1. o pior de tudo, arnaldo, é quando não obstante a significativa contribuição que demos ao desenvolvimento do brasil, ainda assim somos discriminados com cada vez mais força. discriminar nordestinos, junto com gays, negros, mulheres, é "politicamente incorreto" e "cool" nestas terras abaixo de minas gerais. eu sei que não quero estar por aqui quando começarem os primeiros pogroms contra nós.

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