quarta-feira, 6 de julho de 2011

O show de Truman de cada um.

Ninguém gosta de notícia ruim. Isso é um fato que pode explicar porque muitas pessoas preferem assistir as novelas aos jornais por exemplo. Morreu, matou, sequestrou, roubou, afundou, explodiu, desmoronou, etc, são todas palavras fortes e presença garantida todos os dias nos nossos jornais. No entanto, na novela é diferente, nela os “nossos” desejos são realizados diariamente, mas que desejos? Bem, os que a sociedade, principalmente a mídia (TVs, revistas,etc.),  nos mostra como caminho para a felicidade: riqueza, consumo exagerado, poder. Você já parou para pensar porque até os pobres das novelas são ricos? Vai dizer que nunca prestou atenção na mesa de café da manhã dos pobres da novela? Eu me lembro que numa das poucas vezes que parei em frente a televisão para ver novela eu vi uma família pobre de Malhação, acho que o chefe da família era gari, pense em uma mesa farta: suco, bolo, pão, presunto, queijo, leite, café... Eu acho que os garis do Rio de Janeiro devem ganhar muito bem! Sabem o porquê de tudo isso? Simples, a maioria de nós já vêm pobreza todos os dias assim que acorda e os que não passam por isso, desejam ter mais. Com isso, é bom sonhar em ser rico pelo menos uma hora no dia, ou melhor, uma, duas, três... contando com a da tarde (reprise) e com a que vai estrear no horário das “onze”, cinco horas para sonhar! Parando para pensar, por que eles não tiram logo Jornal Nacional do ar e colocam outra novela no horário? Teríamos mais um tempinho para sermos felizes no mundo dos sonhos e menos tempo de sofrimento no mundo real.

         Vamos fazer um balanço do nosso tempo. Se passarmos 8 horas dormindo, 9 horas trabalhando (o pessoal do comércio aqui em Buíque trabalha mais ou menos isso, além de trabalhar o sábado inteiro ultrapassando as 44 horas semanais) e 5 horas assistindo novela, isso dá 22 horas, ou seja, nos resta 2 horas para as refeições, tomar banho, estudar, atender as necessidades fisiológicas e sexuais – isso é o que eu chamo de “rapidinha” – , fazer exercícios, etc. É pouco tempo para tanto, por isso que sacrificamos algumas coisas, mas quais? Bem, ninguém pode ficar muito tempo sem comer e fazer as necessidades fisiológicas, isso não da para sacrificar, sabemos também que o brasileiro, em geral, gosta de tomar banho e que apesar de o número de filhos por casal está caindo nos últimos anos, eu não acredito que as pessoas estão sacrificando o seu tempo “debaixo dos lençóis”. Então, o que nos resta? Excluir o estudo, os exercícios e todo o resto, deixamos de cuidar do nosso corpo e da nossa mente, simples assim.
  
         Confesso que exagerei um pouquinho, uma mudança vem ocorrendo em nossa comunidade, as pessoas estão fazendo mais exercícios e cuidando melhor do seu corpo. Mas esse vento da mudança ainda não direcionou nem sequer uma brisa para a educação. Afinal de contas, para que estudar, cada vez mais pessoas estão arrumando algum emprego e com isso estão podendo comprar as roupas e os sapatos que vêem na novela, isso por si só já é um motivo para comemorar, estamos mais felizes. Será? Se felicidade e assistir TV estiverem associadas, certamente o brasileiro é um povo muito feliz, pois até as professoras que trabalham três horários, a maioria trabalha no mínimo dois, e não podiam assistir aos “bem elaborados” romances televisivos, poderão em breve chegar em casa as dez da noite e sentarem-se em seus sofás para assistir a novela das onze!

         Para que eu não fique feito um Blu-ray enganchado (isso mesmo, Blu-ray, o CD e o DVD são coisa do passado, a mídia agora nos diz para utilizarmos a nova tecnologia e jogarmos fora a antiga.) fazendo remix do quanto é importante estudar, vou falar apenas do quanto é importante conhecer a nossa história. Tudo bem que para conhecer a nossa história é preciso estudar, mas... bem, continuando no remix do quanto eu detesto novela, mas não antes de esclarecer que o meu conhecimento sobre o enredo das mesmas não se deve ao fato de assisti-las, isso seria uma contradição, mais sim ao fato de fazerem chamadas das novelas em quase todos os comerciais. Pois bem, tem uma agora com sotaque nordestino, que pela primeira vez está mais parecido com o nosso aqui do interior, está mais seco e menos arrastado apesar de ainda está chiando muito como o do recifense. Mas, não foi isso que chamou minha atenção, foi pensando no nosso sotaque, que é uma das nossas riquezas, e no quanto ele é facilmente esquecido, basta um buiquense passar dois meses em São Paulo para abandonar completamente o nosso jeito de falar e voltar fluente em Paulistês. Eu conheci um gaúcho que estava a dez anos morando em Recife e ainda falava Gauchês, conheço paulistas que moram por aqui a muito tempo e ainda falam do mesmo jeito que falavam quando chegaram, e ainda tem o cumulo dos filhos da terra que foram para o sudeste e após um tempo lá voltaram falando Sudestês, só que apesar de estarem de volta a vários anos, ainda estão falando diferente. O que explica isso? Nosso sotaque é fraco? Bem, acho que não, o problema está no conhecimento de nós mesmos, muitos estão perdendo o orgulho de serem nordestinos. Isso é um fato, se não damos valor ao estudo de disciplinas práticas, imaginem o valor que a maioria dá ao estudo da história, com isso, como podemos saber que o nordeste do Brasil foi a região que garantiu, econômica, política e culturalmente o desenvolvimento do país por quase trezentos anos, que a capital do nosso país foi Salvador por quase igual período, isso é muito tempo, para um país que tem pouco mais de 500 anos, e que o nordeste carregou esse país nas costas pela maior parte do tempo. Tudo bem que quem faz isso agora é a região centro sul e nossa contribuição se perdeu na história. Será? Acho que não, pois mesmo quando o nordeste passou a bola de carro chefe do desenvolvimento nacional para o sudeste, continuamos contribuindo fundamentalmente para tal, ou será que os milhares de nordestinos que migraram para a Amazônia no século 19 atrás da borracha garantindo a povoação e a incorporação dessa região ao território nacional, em meio a malária a fome e ao calor, não merecem reconhecimento? Será que o país não nos deve consideração por tamanho sacrifício? Será que esqueceram que foi o suor e o trabalho dos nordestinos que fez de São Paulo um gingante econômico? Ou será que esqueceram também que foram os Candangos que desbravaram o planalto central e levaram nas costas o sonho de Juscelino.

         É realmente difícil lembrar disso tudo e sentir orgulho de nossos pais sem conhecer nossa história. Mas, não é preciso sacrificar a querida novelinha para ler aquele velho livro mofado e empoeirado de história do Brasil, mesmo hoje um filho do nordeste mostrou a todos nós onde podemos chegar, e não satisfeito em mostrar, ele ajudou, a sua maneira, o seu povo e se não conseguimos sentir orgulho do nosso passado, que possamos aproveitar o legado do Lula para que possamos nos orgulhar do nosso futuro.     

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Deitado na rede

Mão única. Mas... em que sentido? onde estão as placas?
Transitando pelas ruas de motocicleta um dia desses, mais precisamente em frente ao açougue público – eu detesto passar por aquela rua, tem sempre um monte de carros estacionados de um lado e toda vez vem um carro vindo do outro, é horrível, agente fica procurando uma brecha para enfiar a moto (imagina quando você está dirigindo um carro?) enquanto o outro veículo em sentido contrário passa. Mas, fazer o que? Já tem mais de quatro meses que escrevi neste blog sobre o assunto e nada foi feito ainda. Para piorar, a rua atrás do açougue tá um lameiro desgraçado. – Pois bem, em frete a mim, no mesmo sentido, ia um belo de um carro, acho que um FIAT Stilo ou outro parecido, não prestei muita atenção nisso porque no vidro traseiro estava colado um pequeno adesivo, no cantinho direito, onde estava escrito uma frase, dessas de campanha, de apoio ao prefeito. Quando eu vi o carrão e o adesivo tão pequeno pensei: Ou o dono desse carro não deve estar financeiramente muito ligado a prefeitura – não deve ter nenhum cargo comissionado nem talvez algum contrato, deve ser uma pessoa que simplesmente está expressando sua opinião – ou no caso de ter um belo de um cargo comissionado, é um grande mal agradecido. Qualquer outro que tivesse “ganhado” um cargo que por sua vez tivesse um salário suficiente para comprar um carro desses, no mínimo colocaria um adesivo do tamanho do vidro traseiro inteiro e com a foto também, talvez até uma bandeirinha, seria o mínimo!


Tudo culpa da chuva?
Até o buraco Highlander?


Brincadeiras a parte, a questão é que dentre os raros caminhos – disponíveis no interior – que uma pessoa de poucos recursos pode tomar para melhorar de vida, este é um deles. No entanto, até este caminho exige que a pessoa se movimente – por isso que eu coloquei a palavra “ganhado” entre aspas no parágrafo anterior. E movimento aqui é coisa rara, a economia da cidade cresce em ritmo lento, seguindo a pasmaceira interiorana, e se as pessoas acompanharem esse ritmo danou-se tudo. Para termos uma idéia disso, proponho um teste.

O que você estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001? Não sei quantas vezes você já ouviu essa pergunta antes, a primeira vez que me fizeram essa pergunta foi para mostrar o quanto o nosso cérebro tem uma memória seletiva, ou seja, é mais fácil recordar um fato quando aconteceu algo importante do que em um momento cotidiano. Assim, me disseram que era mais fácil lembrar o que tínhamos feito nessa data específica do que o que comemos ontem, isso faz um certo sentido (apesar da grande maioria de nós comermos basicamente as mesmas coisas todos os dias). Agora eu achei outra utilidade para essa pergunta. Recordando desse dia, vemos que realmente as imagens da tragédia do World Trade Center estão bem vivas na nossa memória, e se por acaso não estiverem não se preocupe, logo a Globo vai nos lembrar de tudo com várias matérias sobre isso. Pois bem, está prestes a completar dez anos desde esse dia e para mim passou bastante rápido, só que dez anos é um bocado de tempo, supondo que a dez anos atrás você tivesse 18 anos, provavelmente você ainda estava terminando o segundo grau e ainda estava naquele “esquema: escola, cinema; clube, televisão" (Valeu Legião!, mas adaptando ao interior: escola, bar; festa, televisão). Para quem teve a oportunidade, outros já trabalhavam duro nessa idade, era uma beleza, nada na cabeça e todo o tempo do mundo para perder. Agora, dez anos depois, bastante coisa deve ter mudado, você já deveria estar mais responsável, provavelmente casado e com filhos, já deveria também estar com um bom emprego e buscando uma promoção ou outro melhor. Mas, será que é assim tão fácil mesmo?

Vamos aproveitar a questão, que expliquei no parágrafo anterior, da memória seletiva para fazermos uma balanço, vamos nos lembrar de como estávamos a dez anos e de como estamos agora. Quantos acham que estão em melhor situação? Quantos acham o contrário? Essas perguntas são difíceis de resolver, mas têm outras mais fáceis: Qual é a nossa responsabilidade por estarmos como estamos agora? Será que nos esforçamos em busca das oportunidades ou ficamos sentados esperando por elas? Dificuldades a parte, fica bem mais difícil chegar a algum lugar deitado em uma rede. Ainda mais quando estamos vivendo em um lugar lento, preguiçoso e pequeno. Então, o que fazer?

Não há respostas milagrosas para isso, e nem Augusto Cury pode dá-las, infelizmente, cada um de nós teremos que encontrar o nosso próprio caminho. Mas, uma coisa posso dizer, temos que primeiro pensar e depois nos movimentar, ficar parado o dia inteiro na porta de casa olhando a vida passar ou assistindo TV ou mesmo sentado em um banco de boteco quase todo dia não vai ajudar. No entanto, que tipo de movimento? Economicamente falando, para que se possa consumir mais amanhã, temos que poupar hoje, esse é um bom ponto de partida para melhorar de vida honestamente. Esse poupar hoje não significa somente ir a Caixa Econômica e abrir uma poupança, ele significa que temos que economizar o que temos agora, ou seja, sacrificar agora, o que na maioria das vezes não é dinheiro. Por exemplo, para quem já tem uma certa fonte de renda, é mais fácil gastar tudo antes do final do mês (não falta opções de consumo para isso em nossa querida sociedade), que poupar um pouco para investir num pequeno negócio ou mesmo pagar um cursinho ou ainda comprar algum livro. Para essa pessoa é bem mais fácil se acomodar onde está e ficar uma vez ou outra fazendo empréstimos para pagar pelos excessos, afinal, é tão fácil obter crédito nesse Brasil. Já para uma pessoa simples que trabalha o dia inteiro e que ganha pouco, ela poderá sacrificar sua noite em casa assistindo novela – isso serve para os homens também, eles agora além de futebol estão assistindo novela – para terminar o ensino médio, é de graça, ou caso já o tenha terminado, pode adquirir baratinho algum material para concurso e estudar em casa mesmo. O sacrifício que fazemos ao estudar hoje também é a poupança que poderá nos dar uma renda maior no futuro.  

Em fim, cada um tem que "auto avaliar-se a si mesmo" (é só para enfatizar!) para ver se não estão se acomodando e fazendo parte da letargia. O movimento nos mantém vivos.  

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Investimento eleitoral

Complementando a crônica anterior, me lembrei de um ex-colega de classe que, com eu, também era do interior, pra falar a verdade, na minha turma somente nós dois éramos do interior. Pois bem, esse cara apresentou um trabalho em sala com uma boa oratória, no final da aula eu brinquei: Tá ai o futuro prefeito da tua cidade. Ele sorriu e disse que nunca seria prefeito e justificou. Ao contrario do que eu pensei, que ele não gostasse de política, o motivo era outro bastante forte. Ele disse que se fosse se candidatar a prefeito não compraria votos, não contrairia dívidas para financiar a campanha e se fosse eleito mesmo assim, nomearia para os cargos comissionados quem ele quisesse e achasse que teria competência para tal, finalizando ele disse: “nunca serei eleito”.

         Com isso eu comecei a pensar no monte de dinheiro que é gasto na campanha, tudo bem que o salário do prefeito é relativamente alto, - embora eu não tenha conseguido saber exatamente qual é o salário, há um apagão na net sobre qualquer informação séria sobre o município - mas será que os mesmos estão dispostos a sacrificar uma boa parte dele, ou mesmo todo o salário para pagar dívidas de campanha? E mesmo aqueles que não contraíram dívidas na campanha, será que gastaram seu dinheiro somente por amor a causa? Ai é que está. Contudo, uma coisa posso dizer, quando se gasta muito na campanha eleitoral, é sinal de que de algum lugar virá o dinheiro para pagar a conta. Não percebemos muito bem como ela é paga, mas basta olhar a mudança no padrão de vida que acontece com os correligionários logo após a posse para termos uma ideia.

         Quando tem-se um candidato com poucos recursos para empregar na campanha a situação fica evidentemente clara, vê-se tanta gente apoiando o mesmo. Agora, o problema se mostra quando após eleito o “coitado” do candidato vê aquele monte de gente a sua porta cobrando a dívida. Aí é um Deus nos acuda, tome cargo comissionado pra lá, tome contrato pra cá, é um verdadeiro sorteio de cargos públicos, muitos dos quais, se não todos, de extrema importância para o futuro do município e que necessitavam de critérios mais técnicos nas escolhas. Sinceramente, mesmo que o prefeito eleito dessa forma tenha boas intenções e vontade de fazer alguma coisa pelo povo, ele assume a prefeitura com as mãos e os pés atados. Assim, fica até difícil fazer alguma coisa mesmo.  

terça-feira, 12 de abril de 2011

Gangorra do poder.

O “Chaleira” de hoje pode ser o “chaleirado” de amanhã. Assim, como o bajulado de hoje pode ser o bajulador de amanhã. Isso acontece muito na política, principalmente devido a uma coisa linda chamada “alternância de poder”. O interessante é que os políticos parecem esquecer isso, pelo menos até a próxima eleição. Mas, eu não estou falando somente de políticos beijando bunda de menino sujo na campanha eleitoral e esquecendo o povo após a eleição, estou falando também dos que assumem o poder junto com os eleitos. Quem já tentou falar com algum secretário, sendo você uma pessoa comum, e teve uma experiência ruim? Quantos deles foram corteses? Quantos te deixaram horas a fio esperando para no final não ser atendido? Com isso eu me pergunto será que são chamados de servidores públicos atoa? Ou será que eles pensam que nós é que servimos a eles? Temos que colocar uma coisa em mente, o povo é o patrão do prefeito e de seus secretários, não o contrário e a pessoa que hoje está no poder, amanhã pode não estar. O problema é que o próprio povo esquece disso, principalmente quando vende seu voto. Está ai uma questão delicada. Pra mim é simples, quem vendeu o voto não tem direito de reclamar nada depois, por isso que é importante votar consciente, pois assim ninguém vai ficar se sentindo como se os nosso governantes fossem os nosso patrões.

No entanto, se eles não são nosso patrões, o que são? A melhor definição que eu achei, no que diz respeito aos prefeitos foi:  “Representante do povo na busca por melhoria do município, oferecendo boa qualidade de vida aos habitantes.” Para realizar esta difícil tarefa é concedido ao prefeito certos poderes, principalmente sobre o patrimônio público. E o interessante nisso é que o povo parece que só enxerga a segunda parte, os poderes que ele têm, e não a sua obrigação. Um ponto recorrente é a questão do bem público. Não é privilégio somente nosso, mas tem-se uma falsa idéia que bem público é bem sem dono, sendo assim, pode-se usar de acordo com interesses privados. Errado, o patrimônio público é de todos e deve ser utilizado somente para o bem comum. Agora tem o outro lado da moeda, outro costumezinho infeliz que se tem é o de achar que os governantes têm a obrigação de utilizar do patrimônio publico em favor de terceiros:

“Eu ajudei fulano na campanha e ele tem que conseguir um contrato pra meu filho... Passei a eleição toda carregando eleitor e agora o prefeito tem que agregar meu carro... etc.”

A prefeitura dispõe de recursos escassos e deve administrá-los com eficácia e eficiência. Assim, os atos do poder público devem ser direcionados para o bem comum, não para o bem de fulano ou sicrano, etc. Vou dar um exemplo: É comum a contratação de funcionários em pagamento a algum favor, eu não estou acusando ninguém, não tenho interesse nisso e também não disponho de provas, mas é de conhecimento de todos que no geral isso acontece. Além disso, esses “contratados” geralmente são subutilizados, isso é quando são utilizados para desempenhar verdadeiramente um função, na maioria dos casos nem função específica têm, e ainda por cima impedem, de certo modo, que pessoas mais capacitadas sejam contratadas por meio de concurso público, o que querendo ou não é mais justo do que indicação pessoal. Pois bem, imaginemos que existam vinte pessoas contratadas numa determinada prefeitura que estejam nessa situação, se cada uma delas ganhar um salário mínimo isso dá R$ 10.900,00 em um mês, em dez meses de contrato teríamos R$ 109.000,00. O que daria para fazer com esse dinheiro? Somente como exemplo e ignorando outros custos como treinamento de pessoal e que o preço ao adquirir em pequenas quantidades deve ser maior, um bem que poderia ser utilizado por um bom número de pessoas e que têm muita utilidade seria uma Ambulância. Não essas que existem aqui no município, que com toda sinceridade fazem o trabalho de quebra galho, mas uma Ambulância tipo a do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), e o incrível é que elas custam mais ou menos esse valor! Assim, o que é preferível para o bem comum, 20 contratados subutilizados ou uma Ambulância completa?   Este foi somente um exemplo, creio que sem pensar muito poderíamos achar boas alternativas para esses R$ 109 mil.
Em resumo, interesses privados não combinam com bom gasto público, ou seja, um gasto que alcance o objetivo ao menor custo de recursos possível. E além disso, é bom sempre tratar bem os outros, pois nunca sabemos onde estaremos amanhã.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crônicas interioranas: Povo curioso

Crônicas interioranas: Povo curioso: "A curiosidade é uma característica inerente ao ser humano. No interior, mais que em outros lugares, esse é um hábito bastante difundido e de..."

Povo curioso

A curiosidade é uma característica inerente ao ser humano. No interior, mais que em outros lugares, esse é um hábito bastante difundido e de certo modo aperfeiçoado que, querendo ou não, faz parte da vida de todos. Eu digo “querendo ou não” porque todos sofremos os efeitos da curiosidade alheia, no meu caso eu chego às vezes até a ficar meio constrangido, é sério! Vai dizer que ninguém já se sentiu assim ao passar pela rua e perceber que um bando de gente está te observando? Na minha rua então... imaginem a cena, você passando sozinho a pé por uma rua cheia de gente nas calçadas e portas, independente da hora do dia, com direito a cadeiras, etc. quando a rua parece estar deserta, geralmente a noite, basta um pequeno ruído como o de sua chave abrindo o cadeado da sua porta, para que um basculante do outro lado da rua seja aberto, uma rua onde todo mundo conhece todo mundo ao ponto de perceber quando um vizinho chega mais tarde do trabalho. Eu sei que posso estar sendo meio paranóico, que traz uma certa sensação de segurança essa proximidade que os vizinhos têm, mas tamanha curiosidade tem um efeito colateral: a “fofoca”.

         Ta aí um fenômeno interessante, para mim é como se o seu vizinho fosse da família, ele interage com sua intimidade e logo depois difunde a informação para que mais pessoas façam parte da sua privacidade e sintam-se da família também. Outro ponto é que tem até local e hora marcada para a fofoca, no caso das donas de casa o horário favorito é à tarde, ou no finalzinho dela, nas calçadas, elas se põem a par de todos os fatos relevantes, para os homens depende, alguns preferem se interar da vida alheia logo de manhã cedo no bar do Davi, outros a tarde no bar do Arsênio. Eu só sei que o negocio é tão desenvolvido que o G1 da globo ou a agencia de notícias Reuters deveriam estudar, nem o serviço secreto americano consegue saber o que os cidadãos estão fazendo no interior de suas residências com tamanha precisão, quanto os vizinhos curiosos.

         A pergunta que fica agora é: por que essa curiosidade e esse sofisticado mecanismo de disseminação de informações não é utilizado para questões importantes para todos? Isso mesmo, eu não acho que minha vida melhora nem um pouco se eu souber que fulana “colocou gaia” em sicrano, ou que o filho de beltrana é homossexual. Por exemplo, dificilmente agente vê, com a mesma freqüência, um grupo de pessoas discutindo se aumentou o número de empregos, ou se melhorou o atendimento nos hospitais ou se a educação está piorando. Como seria útil se as pessoas tivessem mais curiosidade por coisas assim e passassem a informação para os outros, com mais pessoas informadas teríamos mais pessoas para cobrar providencias das autoridades, etc.

         Para dar um primeiro passo neste sentido, vou fazer minha primeira fofoca.

        Abaixo temos um gráfico que mostra o IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica) para a 4ª série/5ª ano das escolas municipais de Arcoverde e Buíque, nos anos de 2005, 2007 e 2009. Como podemos observar até 2007, Buíque vinha obtendo o mesmo IDBE que Arcoverde, 2,8 em 2005 e 3,1 em 2007. Contudo, em 2009 Arcoverde atingiu a marca de 3,9 e Buíque caiu para 3,0, para efeito de comparação, a média nacional é de 4,5, ou seja, ambos os municípios estão abaixo da média, mas qual deles está mais próximo da média nacional? Ai é que está, não sei por que o município de Buíque que vinha apresentando crescimento no índice, obteve essa queda em 2009.



           O que isso significa? De cara já percebemos que não é uma coisa positiva, e não é mesmo, isso é o mesmo que dizer que a educação aqui, no mínimo não está melhorando. Perceberam a diferença? Educação ruim é uma informação útil para todos, afinal são nossos filhos que estão tendo uma educação insuficiente, e são eles que provavelmente terão dificuldade para conseguir um bom emprego no futuro, caso isso continue. Eu sei que não é uma informação tão interessante quanto saber quem apanhou da mulher ou quem engravidou virgem, mas eu posso tentar torná-la um pouco mais atraente. Por exemplo, simplesmente eu mostrei como anda a educação básica aqui em Buíque relativamente ao IDEB, mas não cheguei a mostrar possíveis motivos.

         O próximo gráfico mostra, de acordo com o portal da transparência, os recursos repassados pelo governo federal para os municípios de Buíque e Arcoverde na área da educação no exercício de 2009, onde dentre os recursos dessa área temos o FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), o PNATE (Apoio ao Transporte Escolar na Educação Básica) entre outros.



    Como podemos observar, somente do FUNDEB, Buíque recebeu R$ 7.452.476,09, enquanto Arcoverde recebeu apenas R$ 4.645.464,29, quando somamos o valor de todos os repasses a diferença aumenta ainda mais, Buíque recebeu em 2009 R$ 9.261.587,65, enquanto Arcoverde recebeu no mesmo ano R$ 5.966.282,67.


         Com essas informações eu não posso afirmar muita coisa, mas fica evidente que até um certo ponto as duas cidades vinham melhorando o indicador da educação, mas em 2009 uma apresentou leve queda no índice enquanto a outra aumentou o mesmo, e o irônico é que a cidade que teve o resultado negativo recebeu mais recurso do governo federal que a outra. Como eu quero manter a credibilidade dessa “fofoca”, não posso, ainda, explicar os motivos para o IDEB de Buíque ter caído, mas uma coisa eu sei, apesar disso que foi mostrado não ser tão interessante quanto uma fofoca habitual, eu sei que pelo menos nos fez pensar um pouco.  


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Esperança na escola

Está semana eu estava lembrando do quanto havia ficado satisfeito quando, no final do ano passado, o município de Buíque atingiu 51.990 habitantes. O que eu achei interessante nisso foi o motivo pelo qual eu fiquei satisfeito, não foi porque o FPM (Fundo de Participação dos Municípios) do município seria mantido (caso a população ficasse abaixo de De 50.941habitantes, o FPM cairia), também não foi porque eu trabalhei no censo e estava querendo “mostrar serviço”, foi por um motivo mais ingênuo ainda: Eu gostaria de ver nosso município com uma escola técnica.

         Antes de explicar onde a escola técnica entra nessa história, eu quero citar um momento interessante que ocorreu na faculdade. No meio de uma aula certo professor expôs uma ideia, que por sinal não gostei, pra falar a verdade eu esperava mais de um professor universitário... mas bem, ele argumentou que, como todos sabemos, a educação pública – tanto a básica quanto o ensino médio – são ineficientes, ou seja, ruins mesmo, e comparou com a educação privada – para os mesmos níveis – onde concordamos que o ensino particular (pago) é bem melhor que o público (de graça). Após isso ele nos mostrou que o governo gastava em média por mês R$ 300,00 por aluno do ensino médio, isso é um valor que daria para pagar uma escola particular, assim ele finalizou: “por que então não excluímos as escolas públicas (as ruins) e o governo paga bolsas de estudos, nas escolas particulares (que são as boas), para os alunos que não podem pagar?” Encrenqueiro como sou levantei a mão imediatamente, quando ele assentiu eu disse: “a universidade pública, no geral, aqui no Brasil é, de longe, melhor do que as particulares, então se o governo consegue fazer escolas de terceiro grau muito boas, por que não pode fazer o mesmo com as outras?”

         O desfecho dessa discussão é irrelevante no momento, mas eu fiquei pensando em como a escola pública poderia ser boa, e junto com meus botões comecei a idealizar um modelo de escola baseado nas escolas de nível médio técnicas, tipo o antigo CEFET onde o mais próximo está em Pesqueira. Nessas escolas eu pude observar uma série de vantagens que contribuiriam e muito para o desenvolvimento de municípios como o nosso, com isso podemos imaginar como seria bom uma dessas escolas aqui em Buíque. Assim, voltando à questão do primeiro parágrafo, o motivo ingênuo que me levou a ficar satisfeito por nosso município ter atingido essa população foi o fato da Presidente Dilma ter, durante a campanha eleitoral, prometido que “construiria escolas técnicas em municípios com mais de 50 mil habitantes”. Eu disse que era um motivo ingênuo, mas pelo menos uma coisa eu sei, nosso município estará dentre os que receberão escolas técnicas, caso ela cumpra a promessa e, além disso, se alguma autoridade política local concordar comigo, que seria bom uma escola dessas aqui, o mesmo poderia numa de suas viagens a Recife ou Brasília, lembrar a um deputado e outro dessa promessa e quem sabe se ela não se realizasse mais facilmente.

         Esta foi a primeira de uma série de postagens sobre a educação. Nas próximas crônicas eu vou expor meu ponto de vista sobre essa idéia de escola que foi citada e falar sobre o modelo de escola pública de qualidade que andei pensando, além de fazer um balanço comparando o valor dos recursos federais que a prefeitura municipal teve a disposição em 2010 com os resultados do IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica -, obrigado.